“As Mulheres de Atenas” é uma peça que o dramaturgo brasileiro Augusto Boal construiu tomando como ponto de partida duas comédias de Aristófanes: “Lisístrata” e “Assembleia de Mulheres”.
A primeira parte, baseada em “Lisístrata”, retrata a greve de sexo feita pelas mulheres para obrigarem os homens a acabar com a guerra. A segunda parte, baseada em “Assembleia de Mulheres” fala-nos sobre a ocupação do poder político por parte das mulheres. Tudo se passa numa fictícia Atenas, sem nenhum realismo.
Augusto Boal dedicou “As mulheres de Atenas” a todos os movimentos de libertação feminina e a todas as feministas que o ajudaram a escrever esta peça, quer através dos seus livros, das suas pesquisas ou através dos seus exemplos de vida.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos, os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Chico Buarque - Augusto Boal, 1976
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