quarta-feira, 7 de maio de 2008

As Mulheres de Atenas

“As Mulheres de Atenas” é uma peça que o dramaturgo brasileiro Augusto Boal construiu tomando como ponto de partida duas comédias de Aristófanes: “Lisístrata” e “Assembleia de Mulheres”.

A primeira parte, baseada em “Lisístrata”, retrata a greve de sexo feita pelas mulheres para obrigarem os homens a acabar com a guerra. A segunda parte, baseada em “Assembleia de Mulheres” fala-nos sobre a ocupação do poder político por parte das mulheres. Tudo se passa numa fictícia Atenas, sem nenhum realismo.

Augusto Boal dedicou “As mulheres de Atenas” a todos os movimentos de libertação feminina e a todas as feministas que o ajudaram a escrever esta peça, quer através dos seus livros, das suas pesquisas ou através dos seus exemplos de vida.


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas

Quando amadas, se perfumam

Se banham com leite, se arrumam

Suas melenas

Quando fustigadas não choram

Se ajoelham, pedem, imploram

Mais duras penas

Cadenas


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas

Quando eles embarcam, soldados

Elas tecem longos bordados

Mil quarentenas

E quando eles voltam sedentos

Querem arrancar violentos

Carícias plenas

Obscenas


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho

Costumam buscar o carinho

De outras falenas

Mas no fim da noite, aos pedaços

Quase sempre voltam pros braços

De suas pequenas

Helenas


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Geram pros seus maridos, os novos filhos de Atenas

Elas não têm gosto ou vontade

Nem defeito nem qualidade

Têm medo apenas

Não têm sonhos, só têm presságios

O seu homem, mares, naufrágios

Lindas sirenas

Morenas


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas

E as gestantes abandonadas

Não fazem cenas

Vestem-se de negro, se encolhem

Se conformam e se recolhem

Às suas novenas

Serenas


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas


Chico Buarque - Augusto Boal, 1976

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